A Farmacognosia no Brasil
Memórias da Sociedade Brasileira de Farmacognosia
2021, um ano de celebrações para a Sociedade Brasileira de Farmacognosia
"Um povo sem memória é um povo sem história”. Essa frase é de autoria de Emília Viotti da Costa (1928-2017), umas das maiores historiadoras brasileiras, e expressa que sem o registro e a análise dos acontecimentos históricos não é possível compreender o presente nem projetar o futuro.
Assim, o objetivo maior deste livro é registrar os fatos históricos da Sociedade Brasileira de Farmacognosia (SBFgnosia), que até hoje não se encontravam organizados, o que impossibilitava uma visão ampla de suas ações.
A história da SBFgnosia é pautada em sonhos de mentes visionárias e graças a elas, em 2021, celebra-se:
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os 80 anos da fundação da SBFgnosia, em 1941, quando o Prof. Carlos Stellfeld se juntou a outros sonhadores e também professores de Farmacognosia – Richard Wasicky, Oswaldo de Almeida Costa, Jayme Pecegueiro Gomes da Cruz e Oswaldo de Lazzarini Peckolt – para tornarem seu sonho uma realidade;
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os 45 anos da reativação da SBFgnosia, em 1976, quando um novo grupo de professores de Farmacognosia decidiu que era necessário congregar formalmente os profissionais da área e honrar o sonho de seus antecessores;
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os 35 anos da Revista Brasileira de Farmacognosia, fundada em 1986, na gestão do Prof. Fernando de Oliveira.
A Farmacognosia é considerada a mais antiga das áreas das Ciências Farmacêuticas, uma vez que desde os primórdios da civilização o homem utiliza produtos naturais como recurso terapêutico. O conhecimento a respeito das plantas medicinais foi transmitido e registrado ao longo de milhares de anos. Com a tradução da obra de Dioscórides, durante a Idade Média, a disciplina ficou conhecida, por muitos séculos, como Materia Medica. Foi somente a partir do início do século XIX que o termo Farmacognosia surgiu e se estabeleceu como a disciplina que estuda drogas de origem natural com aplicações terapêuticas. A definição de Farmacognosia e suas abordagens passaram por diversas mudanças, reflexo das transformações sociais, científicas e tecnológicas que ocorreram no mundo, até chegar ao cenário atual como uma disciplina multidisciplinar e transversal a diversas áreas do conhecimento, que tem os produtos naturais como objeto de estudo. Muito além de apenas analisar tais drogas sob aspectos macro e microscópicos, químicos e farmacológicos, a Farmacognosia é uma disciplina fundamental às Ciências Farmacêuticas, uma vez que possibilita, apenas para citar alguns exemplos, a pesquisa e o desenvolvimento de novos fármacos de origem natural, o controle de qualidade de medicamentos fitoterápicos e produtos tradicionais fitoterápicos, o registro do conhecimento tradicional associado à biodiversidade, a promoção do uso racional de plantas medicinais e produtos fitoterápicos, a participação de pesquisadores da área na elaboração e implementação de políticas públicas envolvendo o uso racional de plantas medicinais e seus derivados, entre tantas outras abordagens.
A partir de uma pesquisa histórica realizada com base em documentos físicos e digitais disponíveis, além de entrevistas com diversos pesquisadores e docentes de Farmacognosia e áreas afins, foi possível concretizar este livro, o qual se encontra dividido em três partes, abordando diversos aspectos relacionados à Farmacognosia.
Na primeira parte é abordada a contextualização histórica da disciplina no Brasil e da SBFgnosia, desde a sua fundação até os dias atuais, destacando-se os personagens que contribuíram para a criação e consolidação da Sociedade, e resgatando informações sobre os eventos científicos organizados sob sua chancela.
A segunda parte trata da Revista Brasileira de Farmacognosia, abordando seus aspectos históricos, as particularidades e a importância da divulgação do conhecimento na área, e as prioridades e os desafios atuais e futuros da busca por qualidade das publicações em Farmacognosia.
Na terceira parte são discutidos aspectos relacionados ao tripé Ensino, Pesquisa e Extensão, que fundamenta as Universidades: (a) o histórico do ensino de Farmacognosia no Brasil, sua contextualização atual e as projeções futuras; (b) a Farmacognosia e sua relação com a extensão universitária, destacando-se as contribuições do Prof. Francisco José de Abreu Matos e alguns relatos de experiências de projetos de extensão na área; (c) a inserção da Farmacognosia na cultura e nas artes, nas ações de divulgação científica e no combate às fake news; (d) um panorama histórico e contextualizado sobre a pesquisa em Farmacognosia no Brasil, abordando Farmacobotânica, Química e Farmacologia de Produtos Naturais e Tecnologia de Fitoterápicos.
O capítulo que encerra este livro trata da ascensão e consolidação das Ciências Farmacêuticas na comunidade científica e os avanços da representação dessa área junto às agências de fomento nacionais.
Com esse passeio pela história e trajetória da SBFgnosia, que começou há exatos 80 anos, pode-se compreender melhor seu avanço e consolidação até o presente momento. Historicamente, a SBFgnosia sempre foi engajada nas discussões a respeito do ensino da disciplina de Farmacognosia e da legislação de medicamentos fitoterápicos; na atuação em comitês da Farmacopeia Brasileira e em outros setores decisores de políticas públicas relacionadas ao uso de plantas medicinais; na divulgação do conhecimento científico, por meio do seu periódico Revista Brasileira de Farmacognosia e também do Informe SBF e da Revista A Flora; na organização de eventos científicos de relevância nacional e internacional; na representação política em conjunto com outras sociedades científicas na luta pela valorização da ciência; e na esfera acadêmica, por meio de seus inúmeros associados, que criaram e consolidaram grupos de pesquisa em Farmacognosia, fortalecendo a pós-graduação na área das Ciências Farmacêuticas.
Esse registro é um legado para as próximas gestões da SBFgnosia, que assumirão o compromisso de resguardar essa história daqui para a frente, permitindo a reflexão sobre o futuro da Farmacognosia no Brasil. Qual a importância da Farmacognosia para a formação do profissional farmacêutico? Quais os desafios que os docentes e pesquisadores na área de Farmacognosia encontrarão nas próximas décadas? O quanto, ainda, a Farmacognosia pode se transformar enquanto ciência multidisciplinar frente às novas tecnologias e demandas da sociedade?
Este livro não teve como objetivo principal responder a estas perguntas, mas ele traz subsídios para reflexões futuras na área a fim de que se possa construir novos caminhos, vislumbrar novas perspectivas e dar continuidade à trajetória dos inúmeros pesquisadores e docentes que nos antecederam.
Conteúdo
CAPÍTULO 1
A Farmacognosia e o estudo das plantas medicinais no Brasil
Leopoldo C. Baratto
CAPÍTULO 2
Sociedade Brasileira de Farmacognosia: uma história que começou há 80 anos
Diretorias da Sociedade Brasileira de Farmacognosia entre 1979 e 2021
Leopoldo C. Baratto
CAPÍTULO 3
Os eventos da Sociedade Brasileira de Farmacognosia
Leopoldo C. Baratto
CAPÍTULO 4
As particularidades e a importância da divulgação do conhecimento na área da Farmacognosia
Cláudia Maria Oliveira Simões
CAPÍTULO 5
A Revista Brasileira de Farmacognosia: 35 anos divulgando ciência
Cid Aimbiré de Moraes Santos & Vicente de Oliveira Ferro
CAPÍTULO 6
O futuro das revistas científicas: projeções para as publicações em Farmacognosia e os desafios na busca por qualidade
Rogelio Pereda-Miranda
CAPÍTULO 7
O ensino da Farmacognosia no Brasil: uma disciplina em constante transformação
Nilce Nazareno da Fonte & Leopoldo C. Baratto
CAPÍTULO 8
O legado do Prof. Francisco José de Abreu Matos à Farmacognosia brasileira: o Projeto Farmácias Vivas
Mary Anne Medeiros Bandeira, Karla do Nascimento Magalhães & Aida Maria Matos Montenegro
CAPÍTULO 9
A Farmacognosia fora dos muros da Universidade: relatos de experiências e vivências
Alessandro Guedes, Ana Carla Koetz Prade, Meriane Pires de Carvalho, Nilsa S. Y. Wadt, Nina C. Barboza da Silva, Patrícia B. Krepsky, Paula M. Martins & Leopoldo C. Baratto (orgs.)
CAPÍTULO 10
A Farmacognosia é Pop: simbolismos e representações de plantas medicinais e produtos naturais na cultura e nas artes
Leopoldo C. Baratto, Celeide Luz, Maria Eduarda M. S. Garcia, Natália F. Araújo, Rafa F. Carvalho & Fernanda Mariath
CAPÍTULO 11
Propagandas enganosas e Fake News sobre plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos: o impacto das mídias sociais
Silvana Maria Zucolotto
CAPÍTULO 12
Farmacobotânica: uma ferramenta importante para a detecção de adulterações em matérias-primas vegetais
Jane Manfron
CAPÍTULO 13
As interfaces entre a Farmacognosia, a Química e a Farmacologia de Produtos Naturais no Brasil
Douglas Siqueira de Almeida Chaves, Patrícia Dias Fernandes, Leopoldo C. Baratto & Raimundo Braz Filho
CAPÍTULO 14
A Tecnologia de Fitoterápicos no Brasil: uma contribuição para o resgate histórico do período de 1985 a 2020
Valquiria Linck Bassani & Sara Elis Bianchi
CAPÍTULO 15
Ascensão das Ciências Farmacêuticas na comunidade científica: obstáculos, desafios e avanços da representação da área da Farmácia junto à CAPES e ao CNPq
Eloir Paulo Schenkel, Eliezer J. Barreiro & João Luís Callegari Lopes